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Álvaro Lozano Gutiérrez, nacido en Bogotá d. c. Colombia en 1978. Realizó estudios de filosofía en la Universidad Pontificia Bolivariana de Medellín. Desde el año 2010 hace parte del Colectivo Literario Surgente, Letras informales y el Cine Club Caldo Diojo. Actualmente se desempeña como docente de secundaria. Finalista en el Premio Nacional de Crónica Ciudad Paz (2018). Ganador del concurso de cuento corto latinoamericano (2017) con el relato ‘Esta tierra que habitamos’; y del Concurso Letras Diversas, Revista Goliardica (Medellín, 2001) con la crónica ‘La bohemia’. Finalista del concurso Bogotá en 100 Palabras con el relato "Encuentro". Colaborador habitual del Periódico Periferia Prensa Alternativa y del Taller de Formación Estudiantil Raíces TJER de la Universidad Distrital Francisco José de Caldas en Bogotá. Publicado en variados medios impresos y digitales en Colombia y América Latina.

martes, 9 de mayo de 2017

NESTA TERRA QUE HABITAMOS. (Cuento) Português


*Prêmio do Concurso de “Conto Curto latinoamericano 2017”

Voltaram a ver sua terra depois de muitos anos no exílio. A curva do caminho, já reconhecida há tempos, indicou-lhes que estavam próximos da terra em que foram felizes. Manuel acariciou a cabeça de seu filho enquanto olhava os olhos melancólicos de Marta, tratando de contagiá-la com a esperança de que hoje, sem dúvida, desenhava-se apenas como promessa. Caminhavam lentamente, tentando recuperar os passos que a violência lhes havia obrigado a dar, abandonando tudo o que possuíam.

Já fazia um ano que a guerra havia terminado. A paz se firmara entre os aplausos de uns e a indiferença e o ceticismo de outros. O perdão e o esquecimento se impuseram por decreto. Falou-se muito de vítimas e de reparação. Milhares de homens e mulheres encheram as repartições públicas, buscando que o Estado lhes reconhecesse seus mortos e lhes devolvesse a terra que, há muito tempo, os “poderosos” haviam arrancado.

– A partir daqui falta pouco para o rancho. O primeiro momento será acertar a cerca. Eu me lembro que entravam muitos animais do compadre José e danificavam as matas.

– Estou cansado e tenho fome.

– Não se preocupe, Estevão, assim que chegarmos sua mãe nos preparará alguma coisa. Suba no cavalo e ajude-nos a guiar as outras mulas.

Marta levantou os olhos e viu sua antiga casa no final do caminho. Era só ruínas. Quatro paredes permaneciam de pé, no meio de uma terra cinza que testemunhava tempos de violência e de morte.

Amarraram os cavalos e mulas e entraram, respirando longamente, como quem desperta de um terrível sonho, e somente agora deseja se reconhecer no mundo dos vivos.

– Nesta casa você nasceu…

– Aqui, neste pátio, mataram seu irmão Júlio. Dispararam três vezes.

Detiveram-se, olhando uma árvore morta, abraçando-se e sabendo que se seguiria o mais difícil. Recuperar a terra é honrar os mortos e seguir adiante, apesar da tristeza.

Pela manhã, Bráulio e José saudaram da curva do caminho. Encontraram a família entre ferramentas, consertando o telhado e descarregando as últimas coisas que traziam.

– Compadre, esta terra está doente. Já não cresce nada. As pessoas do governo nos dizem que é melhor vendêla.

Manuel olhava um punhado de cinzas que se encontrava debaixo de seus pés. Tomou o em suas mãos, tratando de cheirálo.

– Semearam palma nos últimos quinze anos, o senhor que comprou tudo isto tinha muito dinheiro, trouxe máquinas, trabalhadores e muita química. A terra se esgotou e agora é um punhado de cinzas. Só cinzas, Manuel, só isso é que nos deram.

– E então, o que vão fazer?

– A coisa vai muito mal, Manuel. Decidimos vender. Viemos lhe dizer isso para ver se, sendo muitos, nos pagam um pouco mais.

– E nossos mortos? Os que os mataram? Esta terra é nossa e não vamos abandonála.

– Compadre, não é coisa de mortos, mas de vivos. Se permanecermos aqui, será para morrer de fome.

Manuel sentiu que o sol castigava seu corpo. Olhava com pena sua família, mas com mais pena e dor os dois homens, que agora só falavam em vender tudo e voltar a uma cidade que não lhes pertencia, que sempre os havia tratado como estranhos.

– Obrigado, compadres, mas eu fico. Se alguém lhes perguntar, diga que prefiro a fome aqui, na minha terra, do que os barracos da cidade. Para mim, essa fome é pior.

As semanas seguintes foram terríveis. Efetivamente a terra, esgotada, havia se convertido num punhado de cinzas e sal. Semearam, primeiramente, as sementes que o governo lhes dera, mas nem um broto havia para acenar que a situação mudaria. Agora lhes restava somente o milho, o mesmo que Marta recolheu numa vasilha, no dia que mataram seu filho, o dia que abandonaram tudo.

Manuel e seu filho pegaram as enxadas e cavaram o mais fundo que puderam. No fundo, a promessa de uma terra negra e fértil nunca os esperava. Tudo era igual, uma fuligem que se estendia até onde alcançava a vista. Nessa tarde, uma camionete luxuosa estacionou no lado de fora do terreno. Um homem obeso e uma mulher jovem, que para Estêvão lhe pareceu formosa, os olharam com desprezo e lástima. Não desceram do veículo, não falaram com ninguém. Esperavam, como abutres, que a família desistisse, para apoderar-se da miserável terra que habitavam.

– Eu creio que não é o sal o que matou essa terra, mas o sangue de tantos mortos. O sangue de seu filho e o meu, que mataram neste mesmo pátio.

Semearam o milho, regaram-no, trazendo a água de muito longe, pois os rios se negavam a dar o consolo da água. Os dias se passaram e se via apenas a mesma paisagem triste. Quando se esgotou o alimento, souberam que talvez haviam voltado à terra apenas para morrer.

– Marta, amor, o que temos?

– Um punhado de farinha e umas colheres de café.

– Então chegou a hora. Prepare a comida, depois só nos resta morrer.

Comeram amargamente. Não disseram nada. Apenas se olhavam, pensando que a vida lhes
havia ensinado sempre que eram os condenados da terra…

Saíram da terra e contemplaram as estrelas. Encostaram-se no meio do campo e esperaram que Deus fechasse os seus olhos.

Quando despertaram, os primeiros brotos se levantaram orgulhosos. Haviam vencido.

ALVARO  LOZANO GUTIERREZ.


Texto ganador del primer premio del concurso cuento corto Agenda Latinoamericana 2017.
http://www.servicioskoinonia.org/cuentoscortos/articulo.php?num=107

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